7.6.17

Livre, leve e solta


Eu vou voar com o vento,
Balançar meu cabelo solto,
Velejando sem destino, sem porto,
Meu vestido colado no corpo.

Para amar, só para amar.
Serei livre só para amar.

Em mil anos, vou permanecer
Sem medo de nunca saber
O que não consigo entender,
Pois me resta apenas viver.

Para amar, só para amar.
Serei livre só para amar.

E em viagens a outros lugares,
Colecionarei memórias, olhares,
Areia de outros mares,
Sem bagagens, sem pesares.

Para amar, só para amar.
Serei livre só para amar.
S.

7.5.17

Mãe querida



No teu ventre, me amaste sem me conhecer. 
Imaginavas o meu rosto e via teu coração bater. 

Mas foram os teus olhos cheios de amor que me prenderam para sempre ao teu colo.
Quantas noites dormi ouvindo o teu lindo canto de ninar e sentindo o teu embalo.
Muitas lições me passaste, dos erros que cometeste e que viste cometerem nesta vida.
Mas foi olhando para a tua beleza que me inspirei e inspiro a cada dia.
Nenhum abraço é tão quente, nenhum carinho é tão meigo.
Nenhum conselho é tão sensato, nenhum castigo é tão certeiro.
És a mãe que quis ter, a mãe que preciso.
Não há  nenhuma outra mãe no mundo que podia ter escolhido.


S. N.

18.3.17

Tristeza

Para eles é facto,
Para ti é sonho,
Para eles é plano,
Para ti é mito.

Para eles é absurdo,
Para ti é realidade.
Para eles é vaidade,
Para ti só noutro mundo.

Para eles é direito,
Para ti é luxo.
Para eles é injusto,
Para ti é silêncio.

Para eles é certeza,
Para ti é sorte.
Para eles é morte,
Para ti é tristeza.

Perspectiva do autor
O que nos desmotiva? O que nos torna tristes?
Sinto que parte dessa resposta pode estar na sociedade em que vivemos. Ser do "terceiro mundo", com certeza, tem um papel na nossa atitude como indivíduos. Não me refiro à tristeza por não ter o que comer ou onde ir buscar água. Refiro-me a tristeza na zona urbana onde, supostamente, existem condições básicas para sobrevivência. Refiro-me à tristeza dos que conseguiram deixar a pobreza da zona rural e a dos mais privilegiados.
Primeiro: existe um ambiente de miséria constante. Mesmo que, muitas vezes, muito bem disfarçado (principalmente nas zonas ricas das metrópoles), existe sempre um "reminder" da miséria que espreita. Um lembrete do sofrimento que existe e que tentamos esconder dos nossos olhos, tentamos esquecer. Mas, mesmo que aparentemente estejamos confortáveis com esse panorama, inconscientemente não estamos. Porque a miséria é mais do que uma realidade, é um sentimento que contagia. É uma miséria da alma, tão profunda que esgota qualquer esperança.
Segundo: com os avanços tecnológicos dos dias actuais, principalmente com as redes sociais, é possível ver em tempo real tudo o que estamos a perder. Para nós o termo "NOT AVAILABLE IN THIS COUNTRY" representa não só que não podemos assistir um vídeo no Youtube, mas que não podemos fazer planos, não podemos sonhar, não podemos progredir, simplesmente não podemos. "Tudo acontece e pode acontecer", "Tudo é possível se acreditarmos", "O sucesso é fruto do trabalho", "O limite é o céu"... menos aqui.   Não se vê a luz no fundo do túnel porque ela está apagada, e pior do que privação é roubar-se a capacidade de sonhar. Isso mata qualquer tipo de criatividade e alimenta um ciclo vicioso. É como se qualquer tentativa de tornar as coisas melhores fracassasse antes mesmo de começar e por isso, resolvemos nunca tentar. Essa sensação de insignificância/impotência/indiferença destrói a nossa auto-confiança, diminui a nossa existência e nos torna tristes. E aí, sim, não há saída.

S.N.

Imagem:www.pixabay.com

17.3.17

Medo

Cobre-me de confete e purpurina,
Esconde a minha alma peregrina,
Cala o meu canto feminista,
Escuta o meu sonho narcisista,
Celebra o meu futuro egoísta,
Abençoa o meu desejo consumista.

Amarra as minhas asas,
Recolhe as minhas armas,
Assume as minhas batalhas,
Silencia os meus mantras,
Invoca os meus fantasmas,
Acorrenta a minha alma.

Perspectiva do autor
Uma das razões pela qual não seguimos os chamados "sonhos", é o comodismo. É muito mais confortável seguirmos o caminho seguro, o caminho que muitas vezes foi "sonhado" para nós. É confortável, é seguro, é previsível. A alternativa parece ser sempre complicada. Porquê que raramente os sonhos são simples? Não conheço ninguém que tenha um sonho facilmente atingível, como ser pedreiro ou padeiro. O pedreiro sonha em ser engenheiro e o padeiro sonha em ter uma padaria própria. Não é interessante? Parecemos suicidas, sempre a procura de uma escada mais alta. E o resultado é que por almejarmos troféus tão grandes, tememos o caminho que nos leva a eles e acabamos frustrados. Mas é mais fácil ir na onda, ligar o piloto automático, sem delírios, acomodar-nos no medo.
S.N.

Imagem: www.pixabay.com

6.2.17

Valores

Recebe o que te dou
Porque tirei de mim
E entreguei a ti.

Recebe o que te dou
Não porque precisas,
Mas quem sabe, um dia?

Recebe o que te dou
Porque sou generoso ao oferecer
E és generoso ao receber.

Recebe o que te dou
Não porque te imponho,
Mas porque me exponho.

Recebe o que te dou
Porque não é só meu,
É também de quem me deu.

Perspectiva do autor
Os valores de antigamente já não são os mesmos de hoje: tema frequente de redações de provas, conversas do almoço de domingo ou diálogos com estranhos na estações dos autocarros. Os nossos avós dizem que nos seus tempos os valores eram melhores e mais dignos. E nós achamos que os valores passados pelos nossos pais são melhores do que os valores passados às crianças do presente.
Os valores que normalmente são apontados nesse contexto são: o respeito (aos mais velhos, às autoridades, às regras) e o pudor. Condenamos os jovens especialmente pela forma como se vestem, como se dirigem as pessoas, como se apresentam na sociedade. Vão trabalhar com roupas curtas, usam "dreads" e tatuagens. E eu pessoalmente não tenho nada contra nenhuma dessas coisas, mas me "empatizo" com essa desaprovação. Acho que uma parte bonita da passagem dos valores pelos nossos antecessores é o sentimento por trás deles. Os nossos pais nos passam os valores como relíquias que acumularam durante décadas de vida, como herança. E o fazem porque querem o nosso bem, porque esperam que com eles tenhamos uma vida mais triunfante e não cometamos os mesmos erros que eles. É um pouco arrogante da nossa parte pegar nesses valores e descartá-los.

S.N.

Imagem: www.pixabay.com

5.1.17

África

Terra do berço,
O teu fogo sempre aceso,
Ilumina o Universo.

Tua abundância
É um portal para a lembrança
Da magia da nascença.

Tuas raízes tão profundas,
Apesar de tão seguras,
Imobilizam tua cultura.

Teu título de nativa
Só te torna primitiva
E condena-te à ruína.

Perspectiva do autor
Fomos abençoados, pois foi aqui que "Deus" decidiu iniciar a humanidade. De todos os pontos no universo, foi aqui que foi plantada a semente. Portanto, este é um terreno sagrado e nós moradores desse terreno. Apesar de quase sempre ser confundido com um país, é um continente vasto e proporcionalmente rico. Diversas línguas, culturas, floras, faunas e relevos. Somos justamente conhecidos pelo calor do clima e do espírito, nossos corações batendo ao ritmo dos tambores.
Fomos amaldiçoados. Mais do que os colonizadores, sabotamos a nossa própria história e existência. Somos tão fieis aos nossos costumes, que não evoluímos. Pensamos que evoluímos quando construímos pontes ou implantamos tecnologias do primeiro mundo, no entanto mantemos os mesmos costumes dos impérios pré-coloniais e coloniais. Vendemos a nossa tão abençoada terra e todos os seus recursos a quem quiser comprar, sem remorsos.

S.N.

Imagem: www.pixabay.com

4.1.17

Laços

Tu juraste com palavras
Pois era tudo o que tinhas,
Não porque não pretendias cumpri-las.

Eu acreditei cegamente
Pois era tudo o que devia,
Não porque estava perdida.

Hoje, não queres cumprir.
Hoje, eu não quero acreditar.
Hoje, podemos, finalmente, esse laço quebrar.

Perspectiva do autor
Porquê que quanto mais velhos ficamos, menor é o nosso círculo social? Lembro-me que quando era criança não percebia porquê que os meus pais não estavam sempre com os seus amigos como eu estava sempre com as minhas amigas e mal podia esperar pela idade em que pudesse fazer tudo o que quisesse para estar mais tempo ainda. Parece que ficamos mais cínicos, menos sinceros, mais medrosos, mais picuinhas. Eu sempre fui uma amiga muito presente e leal e sempre me orgulhei disso. Mas ultimamente tenho me revelado uma amiga razoável. Não que me tenha tornado estúpida ou uma "amiga da onça", mas é facto que sou menos presente. Além disso, também sou mais reservada, mas acho que é por preguiça de revelar cada acontecimento e pensamento da minha vida como fazia nos "bons tempos". Também a vida é muito mais complexa agora, temos tanta coisa a acontecer a todo o momento que é difícil acompanhar, até para nós mesmos. Antes a vida eram as amizades. Agora há outras prioridades e outros prazeres. Mas isso não quer dizer que não tenha sido verdadeiro e que as promessas não tenham sido sinceras, apesar de não as termos mantido.

S.N.

Imagem:www.pixabay.com

3.1.17

Caminho

Os primeiros passos,
Com os pés descalços,
Apesar dos tropeços,
Não criam embaraços.

O fascínio pela vida
Move e incentiva,
Ao mundo, cativa
E de dor, nos livra.

São adereços e sapatos
Que criam peso e calos.
São vendas e escudos
Que nos tornam cegos, surdos e mudos.

Imagem:www.pixabay.com