22.12.16

Canto

Eu canto um canto simples e picante
Os meus sonhos não cabem em mim
Corro ao ritmo do dia e da noite
Procuro atalhos, mas desdenho o fim

Destroo muros e abro caminhos
Abafo o canto que nasceu comigo
Embriago-me com desejos mudos
Resgato o canto outrora perdido

Mas tudo é ensaio, tudo é ilusão
Os triunfos, os medos – mera encenação
Enormes muralhas sem fundação
Um mundo feito em papelão

A verdade é o erro em contra-mão
Mas tudo é farinha do mesmo grão
Quem sabe é quem diz que não
E o resto vive numa grande ilusão

De lua a sol o vento me acorda
E range o tronco que me pus às costas
Vento tal que me dá uma boleia
E relembra dos compromissos e apostas

A inveja é o medo polvilhado de fracasso
A humildade é espontânea e graciosa
O sucesso é sábio e modesto
A persistência, sua fiel esposa

Imagem: www.pixabay.com

21.12.16

Pássaro

Pássaro, passarinho,
Que lindo canto de amor!
No alto, sozinho,
Vejo o teu esplendor.

Tuas asas de papel
Levam-te para além do horizonte,
Onde os rios são de mel
E onde o sol se esconde.

Pássaro, passarinho,
Voa alto, voa contente.
Abandona o teu ninho,
Leva amor a toda gente.

Imagem: www.pixabay.com


20.12.16

Farol

Trocamos de farol incessantemente.
O coração ou a mente?
Oferecemo-nos à paixões como a água se molda ao recipiente.
Guiamo-nos por faíscas em noite de fogos de artifício.
Embebedamo-nos de luxúria, arrogância e vício.
Ficamos sem rumo, porque não houve início,
Porque tudo começa de dentro,
Do puro e do divino.
O único farol é o instinto.

Imagem: www.pixabay.com

19.12.16

Luzes

Desejo leveza ao teu ser.
Que o peso que levas nas costas
Seja a pedra em que te encostas
No campo, ao entardecer.

Desejo leveza à tua alma.
Que o nó que te prende a fala
Seja o nó da corda quando escalas
Para o topo da montanha mais alta.

Desejo leveza ao teu espírito.
Que o aperto no teu peito
Se torne no abraço perfeito
Ao teu melhor amigo.

Desejo leveza ao teu corpo.
Que os calos nos teus pés
Sejam histórias de quem és
E de como farias tudo denovo.

Imagem: www.pixabay.com

18.12.16

Quatro estações

Em vez de mim,
Escolhi a ti
E foi assim 
Que permaneci
No teu mundo
Frio e escuro,
Esquecida ao relento nesse Inverno.

Em sonhos meus
Tu eras Deus.
Em sonhos teus
Eu fui talvez
Uma simples cor
Deslavada em dor,
Ardendo insofrida nesse Inferno.

Não vi alguém
Igual a ti.
Senti, porém,
Falta de ti.
E assim fiquei
A teu desdém,
Mantida nesse tenebroso Outono.

No meu mundo
Só foste tu.
No meu mundo
Tu és tudo.
E eu uma flor,
Com o teu odor
E estou condenada a este encanto.




16.12.16

Meu céu, meu chão

Num sono profundo,
Tão profundo que transcende,
Me levando à outro mundo,
Outro mundo que se estende
Até à porta do divino,
O famoso paraíso,
Pomposo e colorido
Como o abraço para o mendigo.
Um farol que me conduz,
Minha escada para a Luz!

E no regresso,
 É o teu colo que ampara o meu embalo!
Tuas mãos me seguram,
Mesmas mãos que me içaram
Na areia movediça
Que escorrega para o abismo.
És o barco, és o ninho!
Guardião do meu destino,
Meu amor, minha razão!

Meu céu e Meu chão!

Eu não te amo

Eu não te amo
Porque te quero a toda a hora,
A cada minuto, a cada segundo.
E o amor não agarra, liberta!

Eu não te amo
Porque quero ser a tua história,
Testemunhar cada tristeza, cada triunfo.
E o amor não sufoca, espera!

Eu não te amo
Porque não tolero a tua demora
Quando estás solto pelo mundo.
E o amor não guarda, entrega!

Perspectiva do autor
Tenho medo desse sentimento supostamente chamado "amor". Amor de verdade faz bem. Amor não pesa, não forma um nó na garganta. Amor liberta, não agarra. Dá asas. Amor entende, acalma, consola sem sufocar. Então porquê sentimos esse aperto na boca do estômago quando soltamos o outro? Porquê vem um nó na garganta quando somos ignorados? Porquê construímos as nossas vidas em torno de quem "amamos" e de quem nos "ama"? Se amamos tanto, porquê sentimos essa vontade doentia por participar em vidas que não são as nossas?

S.N.
Imagem:http://www.wall321.com

15.12.16

Todas as luas

Quando lua nova,
Aquela curiosa
Que espreita e provoca,
Coloca tudo sob prova.

Mas quem sonha noite a noite
É a lua crescente.
Vive longe do presente
E se guia pela mente.

A lua cheia quando brilha,
A todos ilumina,
Transmitindo sabedoria
Que acumulou durante a vida.

A minguante está serena
E já sabe que não é eterna,
Mas de si não sente pena
Porque um dia foi repleta.

Perspectiva do autor
Talvez o que nos limite são as caixas em que escolhemos nos colocar. Quem sabe o que nos torna normais ou comuns (isto é, não-especiais), seja porque tentamos ser especialistas. Forçarmo-nos a ser extraordinários em uma única habilidade, silenciamos todos os nossos outros potenciais e portanto, tornamo-nos normais (ordinários). Porque, se pararmos para pensar, somos todos divinos e assim, omnipotentes. Todos temos a capacidade de ser o que quer que seja. Então porquê é tão difícil encontrarmos talentos/vocações em nós mesmos? Porquê nos sentimos tão não-especiais? Porquê duvidamos de qualquer lapso de habilidade que apareça e nos sentimos fraudes? Se é verdade que somos omnipotentes (e isso é um facto), porquê é tão incrédulo e surpreendente descobrir um talento? E porquê é tão difícil aceitá-lo? E quando temos mais de uma habilidade, sentimo-nos medíocres ou razoáveis. Não devíamos, supostamente poder fazer tudo? Então escolhemos uma missão de nos especializar em uma habilidade e suprimir o resto. E assim, nos tornamos comuns, normais e realizados. Só que não percebemos que cada um de nós é capaz de ser e de se apresentar de infinitas maneiras, numa só vida.

 S.N.
Imagem: By Deizi Maronez Conrad, via Wikimedia Commons

14.12.16

Imagina, constrói e desperta

Embarca numa viagem,
Flutua pelas núvens,
Descobre uma miragem,
Escuta notas mudas.
Senta-te e sente-te!
Desenha o teu retrato,
Retoma o existente,
No corpo, o recipiente,
E vive em plenitude.
Ama/Liberta/Sente!